terça-feira, 31 de março de 2009

Conto: Uma taça de vinho





Às vezes, quando eu bebo, fico conversando por horas, dou voltas e mais voltas, a minha mente viaja, e é neste momento que me sinto livre. Nestas horas eu me lembro das coisas boas da vida, dos meus tempos de adolescente e de quando me tornei adulto, essa fase que parece nunca passar. Por isso, para mim é normal comparar o antes com o depois, as fases boas com as ruins, os sonhos com as decepções. Programar o futuro, sem nunca me preocupar com o que vou deixar para trás.

Eu ainda gosto muito de fazer isso, me lembrar, enquanto bebo um bom vinho tinto. Cada garrafa é diferente da outra e é a sensação do desconhecido que está por trás de cada uma que faz com que o ato de beber seja tão agradável.

Quem me conhece sabe que este tipo sentimento governa minha vida, e que o desconhecido abre as portas em minha consciência. Mas, ninguém ainda me descobriu por inteiro, porque parte de meus sentimentos e de minha vida, são tão sombrios, tão obscuros, que me recuso a compartilhá-los com qualquer pessoa normal.

É uma pena que a minha vida tenha mudado tanto. A muitos anos não sinto mais o gosto de um bom vinho, mas aquela lembrança ainda vive dentro de mim. Por isso, sempre que posso trago comigo uma Taça Bordeaux. Afinal, agora só me resta harmonizar a vítima com uma boa dose de “vinho A+”, e me lembrar dos velhos tempos, quando um coração ainda batia em meu peito e o sol aquecia minha face nas manhãs de domingo. Enfim, mesmo após 200 anos, eu ainda sou viciado na lembrança de um bom vinho e em tudo que ele me lembra de bom.