quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Mini conto: DESPERTAR

Estou aqui, estático, de olhos fechados, imerso em pensamentos e lembranças. Eu me lembro do exato segundo em que tudo começou, do som dos tiros sendo disparados e dos gritos de dor de minha esposa moribunda, jogada no chão.
Lembro de minha filha mais nova, ajoelhada, estuprada, ferida, chorando, chamando por mim. Do cheiro de gasolina espalhado pelas cortinas de seu quarto e do ruído arrastado do fósforo sendo queimado. Lembro das risadas ecoando nos corredores.
Só nunca me esquecerei do momento que fui levado dali, para sacar o meu pouco dinheiro e tentar salvar a minha última filha, que foi levada não sei para onde.
O sentimento de impotência e da humilhação por não ter protegido minha família me consumiu. Abro meus olhos, agora bem devagar, o mundo a minha frente se torna diferente, vermelho, monstruoso,...,doce. Os pedidos de socorro não mais me incomodam, as lembranças insuflaram o desejo de morte em meu peito. O brilho de minha navalha me lembrou do poder que agora possuo. Os pulsos cortados, um a um, não tiveram a capacidade de matar. O corte na perna, comprido, profundo também não. O cheiro de sangue mexeu com meus sentidos, quase desisti de continuar. Um corte no pescoço, de orelha a orelha, foi o suficiente. A morte se apoderou de mim e eu gostei.
Gostei muito, amei! O monstro despertou! Matarei a todos, não adianta suplicar, a morte de minha família será vingada, aqui, agora, bem devagar, um de cada vez, ela virá para todos que estão aqui, presos nesta sala.

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